segunda-feira, 20 de julho de 2009

Retrato de si mesma



E a garotinha então cresceu. Não, ela não havia crescido, mas havia mudado sua forma de enxergar o mundo, de encarar a realidade. Antes, ela esperava demais, acreditava demais. Depois, descobriu a verdade e se encontrou.
Percebeu que o mundo não era um conto de fadas, mas tampouco era tão ruim como muitos apregoavam diariamente. Ela parou de esperar, deixou de buscá-lo, de sentir o peito explodir só de pensar em seus olhos adocicados. Agora ela se conhecia, sabia quem era, embora ainda tivesse inúmeras perguntas sobre si mesma.
Deixou de depender da aprovação dos outros, olhou o espelho, gostou da imagem refletida e sorriu. Sorriu com a luz do sol brilhando em sua face, sorriu com as gotas de chuvas molhando seu corpo, sorriu com a brisa despenteando-lhe o cabelo. Já não era uma menininha ingênua. Sabia que não podia esperar nada das pessoas, porque quase sempre iria se decepcionar. Aprendeu a dar valor a quem realmente merecia, buscou em outros olhos a coragem. Ela sentia-se bela, sabia-se inteligente, reconhecia seus defeitos, por mais que doesse. E se lembrava do mar, da inesquecível viagem com sua família, dos momentos marcantes com os amigos. Era apenas uma garota normal, mas sabia-se diferente.
Ela nunca gostara de seguir modinhas, de fazer o que todo mundo fazia. Não se importava em ser tão diferente, em ter aquela mente crítica, criativa e inquieta. Inquieta. É o que ela mais era nessa vida. Nunca sentia-se completamente satisfeita, buscava sempre mais, sabia que ainda poderia haver algo melhor. Alguns diziam que ela precisava lutar, mas estes não a conheciam. Sua luta era diária, interminável talvez. Buscava, buscava, buscava. Encontrava e voltava a buscar.
Ninguém entendia porque ela gostava tanto da calmaria, de ficar em casa e aproveitar a família. Mas ninguém sabia como ela havia descoberto a importância de estar com os seus. Agora ela sabia, mais do que pudera imaginar, que não havia nada mais importante no mundo do que ter quem amar, quem cuidar. Afinal, o fim de todos é a morte mesmo, e isso torna necessário aproveitar o pouco que se tem em vida.
Ela gostava do seu jeito desconexo, distraída, diferente de todos. Não sentia vergonha. Orgulhava-se. Não se escondia. Fazia questão de gritar sua verdade.
As duras pancadas da vida talvez a machucassem, mas não a abalavam. Ela podia até chorar, mas não desistia. Aprendera a ser forte. Aprendera a viver.
Ela não sabia de nada, não imaginava o que seria dali pra frente, nem tentava imaginar demais, pois havia aprendido que o mundo dá voltas.
Lutou para conter as lágrimas e esboçou um sorriso. Um sorriso que ela amava, porque havia aprendido a se amar verdadeiramente.
Ainda tinha problemas, mas não se desesperava. Gostava de viver assim, aproveitando os mínimos detalhes, saboreando todos os sabores da vida, sonhando alto com os pés no chão e reconhecendo-se pouco a pouco.
Sabia quem era, embora não o soubesse completamente. E gostava disso. Gostava-se assim.

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