terça-feira, 24 de novembro de 2009

O tocador de violino



Toca violino como quem tenta tocar uma alma. Aliás, tentava tocá-la. E conseguia muito mais, conseguia tocar muitas almas, inúmeras almas.

Sua melodia docemente triste e alegremente melancólica parecia fazer repousar uma nuvem de calmaria sobre todos que o ouviam, e todos paravam seus afazeres e ouviam, extasiados, a música tocada pelo jovem tocador de violino.

Ele amava a música; não tinha por objetivo mais do que sentir sua alma passando-lhe pelo dedos e produzindo aquele som maravilhos no instrumento que ganhara quando pequeno. No entanto, sua música parecia um gigantesco campo magnético, atraindo todos que tivessem contato com ela, mesmo que o mais breve.

A música era sua vida. E, tocando sua vida, acabava por tocar - e transformar - a vida dos que lhe cercavam.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Desabafo

Tenho saudades de tudo. Do que foi e do que nem chegou a ser. Dos amigos que já não vejo, dos que vejo uma vez ou outra, dos amigos que ainda não tenho. Saudades de ser quem eu era, da minha autoestima, das minhas companhias. Não sei o que aconteceu para que tantas mudanças ocorressem, e para que eu mudasse tanto assim. Ou talvez eu saiba, mas o motivo me machuca tanto que prefiro fingir desconhecê-lo.
O fato é que já não sou a mesma. Mudar pode ser bom, ou mesmo necessário, mas a mudança que se processou em mim seria mais bem vinda se ela nunca tivesse me encontrado. Envelheci antes da hora, amadureci de uma forma que eu - e ninguém - deveria jamais. Perdi minha alegria, parte da minha paixão pela vida, já não encontro tantos motivos para sorrir. O tempo todo sinto um grande vazio, a falta de alguma coisa que não sei o que é. Já não sorrio com tanta frequência, já não dou gargalhadas escandalosas como eu costumava. Um peso desabou sobre as minhas costas e não há nada que o tire daí.
Olho para trás, encaro minhas fotos e vejo como minha alegria se dissipou. Sinto falta de ser quem eu era, de tudo o que eu costumava fazer, de tudo o que eu costumava querer, de sonhar como eu sonhava e ser feliz com o gesto mais aparentemente insignificante.
Estou onde eu mais quero estar, e ainda assim me sinto vazia. Parece que a alegria se cansou de mim e resolveu procurar outra pessoa em quem habitar. E, por mais agradecida que eu esteja por cada coisa que conquistei, sinto que perdi algo extremamente importante e tenho medo de não encontrá-lo novamente.
Não sei nem se isso é um desabafo, se é um impulso qualquer ou uma loucura.
Talvez seja medo. Talvez seja outra coisa que não sei o que é.
Medo de que seja depressão. É o que o médico desconfia que seja, o que me faz fugir. Talvez eu deva voltar lá e falar que a suspeita dele deve estar correta. E aceitar. Não sei o que é, não sei o que fazer, só sei que sinto medo.
E saudade, saudade de tudo o que já senti um dia.