terça-feira, 20 de outubro de 2009


E ela achou que tinha se apaixonado, coisa que não queria. Olhou para o lado e viu o garoto de mãos dadas com outra menina. Ah, ela percebeu que a paixão não lhe alcançara, e sorriu ao encarar com olhos mais felizes o lindo pôr do sol, iluminando cada folha das árvores do lugar que tanto amava. Ele não era o garoto certo - talvez nunca seria - e ela, sorridente, agradecendo pela vida, agradeceu porque seu coração não lhe pregou outra peça.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

PANOS


Cobrir a realidade com panos escuros, daqueles que no corpo nos fazem sentir dentro de uma sauna, pode parecer um jeito fácil, até mesmo simples para encobrir o que nos machuca. Esconder a realidade debaixo de panos não adianta nada, acredite. Ela parece criar vida, fazer-se mais forte quando a tentamos abafar. Ela cria braços, pernas, tentáculos e bocas - sim, bocas, no plural - para se mostrar, firme e forte, incontrolável e esmagadora.

Ah, sei lá, mentira isso. A vida é bela, é sim. Há partes feias - horrorosas, eu diria -, mas, no geral, a vida é maravilhosa. Podemos sofrer, chorar, nos enganar, nos iludir.

Ah, a ilusão, como dói essa maldita criatura. Como dizia meu avô, o melhor da festa é esperar por ela. A expectativa criada, a realidade imaginada, os planos feitos. E desfeitos. Pelo menos há uma vantagem na ilusão: você se sente feliz enquanto sonha. Planos, planos e mais planos. A conversa na imaginação, a atenção, o carinho desejado. E, naquele momento, aquele em que a realidade deveria se delinear exatamente como planejamos, ela vem, nos mostra que não somos donos do destino, nos esbofeteia e sai de nariz empinado. Na hora, dói. A alma grita, querendo sair do corpo e fugir da realidade, fugir do mundo. Ha! Fugir do mundo. Mas ela está presa em nós, não pode sair, por mais que queira. E é obrigada a sofrer com a mente.

Tudo bem, a mente é forte, se recupera. Nada que umas sinapses nervosas não possam resolver. E lá vamos nós outra vez, burramente pisando em solo movediço.

E a realidade se revela mais uma vez.

Dizemos que aprenderemos, que os erros nos ensinarão. Mas continuaremos a errar.

Isso pode ser péssimo. Mas também pode ser maravilhoso. Não é masoquismo. É a graça da vida. Nada seria tão bom se fosse sempre perfeito. Prefiro tentar e errar do que jamais buscar o melhor.

Panos não escondem a realidade, não dissolvem problemas, não ajudam em sua solução. Podemos insistir em utilizá-los, mas saibamos que o esforço será em vão. Não é pessimismo, mas apenas uma forma diferente de encarar o mundo. Se tudo pode ser péssimo, ok. Valeu. Melhor é jogar nossos panos fora, escancarar nossas janelas e gritar nossa verdade.